Vivendo em Grande Eslito - Parte III

Hellen estava na porta de casa esperando pela sua amiga que logo chegou. Quando entrou no carro fez questão de tirar o Cd do Coldplay e por um do Santana.

- Que mania a sua de mexer no meu rádio!

- Não estou na fossa pra escutar Fix you, não quero concertar ninguém que não seja você!

- Baka!

Foram pelo seu caminho ouvindo Santana e falando besteira, falando não, só quem falava ali era a Hellen que depois que descobriu Bi-sexual começou a “pegar” qualquer mulher que via pela frente.

Luisa escutava sem muita atenção até que de súbito freou o carro.

- Tá querendo me matar sua anta?! – grita Hellen –

- É ela! – disse e desceu do carro-

Luisa atravessou a rua e quase foi atropelada, Hellen saiu do carro e foi atrás da sua amiga que parecia estar “louca”, transtornada...

Luisa abraçou uma mulher do nada na calçada em frente à prefeitura. A mulher que estava de costas se virou tentando se livrar daquela “maluca” que tinha lhe agarrado do nada enquanto ela ia em direção ao ponto de ônibus. Quando os olhos de Luisa finalmente viu quem estava abraçando ela respirou fundo e abaixou a cabeça.

A mulher saiu andando dizendo “- Você é doida ou o que?”

- Ficou maluca Lu?

- Parecia ela, eu tinha certeza que era ela!

- Não Lu, ela não era a Sara! – abraçou a amiga e a levou até onde estava o carro-

Hellen simplesmente decidiu que aquele não era o dia de ir para a Facul, sentou-se no banco do motorista e saiu dirigindo pela cidade com Luisa chorando calada ao seu lado.

Meia hora depois Luisa ainda chorava quieta, até estranhar o caminho que elas estavam fazendo perguntou:

- Pra onde estamos indo?

- To te levando pra visitar uma pessoa especial!

- Pessoa especial? Para, para! Não quero ir pra lugar nenhum!

- Olha só, fica quieta ai sua anta, chata que eu amo! Eu cansei de te ver sofrendo pelos cantos, vendo a tal Sara no rosto de todas as mulheres do seu caminho. Por acaso você se lembra de quem você era? Você era viva! Tá bom, tinha suas depressões que não passavam mais que 3 dias e seguia em frente, feliz e contente!

- Você não sabe quanta falta eu sinto dela Hellen!

- Mas ela não tá morta, pra você estar de Luto não! Oxe deixe de besteira! Agora fica quieta que já estamos chegando!

Depois de quase uma hora, Hellen finalmente para o carro na frente de um pequeno Sitio, com uma porteira toda coberta por trepadeiras. Luisa olhava fixamente para aquele lugar, já fazia anos que elas não iam lá juntas e acabou sentindo uma pontada de nostalgia dos anos que passou brincando naquele pequeno Sitio.

Hellem desceu, abriu a porteira e voltou para o carro, entrou e estacionou na frente da casa modesta que existia lá.

Luisa já entendia qual a intenção da sua amiga com esse ato, mas não sabia se queria encarar seu antigo mestre assim, naquele estado emocional tão fragilizado.

Elas desceram e logo puderam ouvir vozes animadas vinda do fundos da casa, eram crianças, adolescente e jovens brincando de roda, quando se aproximaram Luisa pode ver seu mestre, sentado embaixo da sombra de uma árvore tomando um chá.

O corpo todo de Luisa tremeu quando seus olhos tristes encontraram o olhar Iluminado daquele que um dia lhe ensinou a respeitar as leis do tempo e a natureza, o homem que lhe mostrou os mistérios das artes antigas, seu mestre Santiago.

Santiago não era muito velho, tinha 40 anos, era um senhor sorridente e pra cima, tinha conhecido a mãe de Luisa quando ainda era um garoto de 20 anos. Seus pais eram muito ligados a Religião antiga e já nessa época ele jogava tarô e lia mãos, mas foi numa viajem à Irlanda que acabou conhecendo a antiga religião e quando voltou havia se tornado um mestre na arte, se casou com Valkiria e tinha dois filhos: Lua e Miguel.

Quando num dia de chuva Luisa chegou em sua casa levada pela mãe, ele sentiu que teria um trabalho árduo com ela.

Luisa era rebelde, indisciplinada, vazia e profundamente arredia. Sua mãe não conseguia controlar seu temperamento “destrutivo” e mesmo tendo levado a menina de 14 anos pra vários Psicólogos nada havia mudado, temendo o pior acabou se lembrando do velho amigo que era “Zen” –como gostava de chamar- e vivia num clima meu Paz e Amor, achando que ele podia ajudar a sua filha à melhorar seu comportamento.

Os olhos de Santiago mostravam a emoção em vê-la novamente, tinha a Luisa como filha desde que ela entrou em sua casa.

Hellen se aproximou dele primeiro beijando-lhe a mão e a face, depois Luisa, como se temesse, beijou a mão daquele que tanto admirava e beijou sua face, ela chorava quieta enquanto ele à abraçava com ternura.

- Durante meses pedi para a Grande Mãe trazê-la minha pequena, sua ausência faz que meu espírito chore.

- Pai, desculpe por não ter vindo antes, eu apenas estava vivendo loucamente essa vida cheia de compromissos e aventuras.

Ele riu, sabia o quanto ela era intensa em seu modo de viver a vida.

- Santiago, a trouxe aqui porque só você pode ajudar essa cabeça dura! Cansei de ver essa praga chorando pelos cantos e em luto fechado!

- Luto, o que aconteceu menina?

- Nada pai, é que ela sempre exagera! – Falou olhando duro para Hellen que tinha um riso triunfante nos lábios!

- Vou deixar vocês conversando... Santiago, a Veronika esta lá na casa?

- Está sim, disse que hoje ia fazer um almoço diferente, acho que sentiu que viriam! Vá até lá, ela adorará vê-la, afinal você é a “Sobrinha Maluca dela”!

Eles riram, Veronika era tia da Hellen e totalmente diferente da mãe da menina, mesmo sendo gemias.

Hellen saiu correndo, parecia uma criança e um silêncio perturbador pairou pelo lugar, as crianças saíram brincando pelo campo, os jovens voltaram a seus afazeres e só sobrou Santiago e Luisa.

Santiago olhava profundamente nos olhos de sua jovem amiga, podia ver o quanto seu espírito estava perturbado e então quebrou o silêncio.

- O que ouve para ter tanta tristeza em olhos tão lindos?

- Perdi o amor da minha vida, ela não me perdoa por um erro que cometi e não consigo esquecer, não consigo aceitar... Depois de vê-la partir senti como se meu espírito tivesse sido arrancado do meu corpo e não sabe como voltar!

- Tudo tem um bom motivo para acontecer minha filha. O amor arma teias e contradições para que no fim ele se mostre supremo sobre todas as adversidades!

- Sinto que não conseguirei mais viver sem ela. – voltou a chorar –

- Ciúin fairy beag. O caminho que nosso coração trilha nem sempre tem muitas luzes, mas isso não significa que ele não é belo e florido, algumas flores só se abrem na escuridão, como outras nasce em meio ao caos! O amor é como a Lótus, ele nasce no memento certo, mesmo no terreno mais imundo ou no mais desértico, e quando ele nasce nem a morte acaba com sua beleza, ele continua ali! Não dê seu amor como acabado ainda, e também não subestime o amor das outras pessoas...

- Mas se ela não me amar, e se eu amar sozinha? – disse limpando as lágrimas -  E se ela encontrar alguém mais bonita que eu, mais inteligente e que ela confie? Eu sei Pai, ela não confia em mim, eu quebrei o cristal da confiança!

- O amor não precisa ser vivido para ser real! Se você quer provar que esta realmente arrependida, então cate os pedaços do cristal quebrado e substitua-o por um diamante! Não espere demais das pessoas minha fada, todos nós erramos. Se você errou ela também esta errando por não te dar uma chance de se redimir!

- Ela se decepcionou comigo e não quer mais saber de mim!

- Lembre-se que nada acontece por acaso, tudo tem um motivo para acontecer... O universo conspira planos mirabolantes e o destino é uma teia de acontecimentos que tem o único objetivo de nos ensinar as lições da vida! Você tem dois caminhos à sua frente e terá que escolher um. O primeiro é seguir em frente e lutar para superar seus medos e reconquistar o seu amor, o segundo é desistir e deixar-se morrer de tristeza... Qual será a sua escolha?

Luisa ficou em silencio, meditava em cada palavra dita pelo Santiago. “- Ele esta certo, tenho que mudar essa situação, tenho que aceitar o amor que tenho e confiar na força dele!”

Um sino toca anunciando a hora do almoço e as crianças correm para a casa famintas! Santiago também se moveu, levantou-se e com um sorriso que faria o mais triste dos mortais sorrirem disse :

- Let's a itheann!

- Pai, você num perde essa mania de falar em Irlandês! – riram –

O almoço aconteceu numa algazarra só, os netos de Santiago e os amigos faziam questão de dar um clima de festa ao lugar, Veronika ao ver Luisa jogou as mãos pro céu falando como ela tinha crescido e estava bonita naquela roupa. Hellen jogava olhares provocantes para um rapaz que estava ajudando nos preparativos para o casamento de Lua. Era o cunhado.

A sobra que havia sobre os olhos de Luisa saíram e deram lugar a um brilho que eu diria de Esperança!

Depois do almoço, com  tudo já arrumado e sob controle, Luisa e Hellen se preparavam para voltar.

- Você devia vir nos visitar mais vezes, quero ver se não estará aqui para o casamento da Lua! – desse Veronika abraçando Luisa-

- Não perco por nada, apesar de não tê-la visto hoje e não ter recebido o convite por ela, ficarei honrada em estar aqui!

- As duas devem vir! – Disse Santiago enquanto Luisa e Hellen beijavam suas mãos –

- Eu ainda não sei porque vocês pedem a benção do Santiago e não a minha!

- Ah Veronika, é porque em você a gente faz assim ó! – As duas abraçam Veronika em um gigante abraço coletivo.-

- Até meu povo! – Gritava Luisa dentro do carro –

-  Que os Deuses lhes acompanhem minhas Fadinhas! – gritava e acenava o Santiago feliz –

Depois de uns vinte minutos de estrada Luisa decide contar a sua amiga sobre a conversa com seu mestre!

- Ele sempre diz coisas sabias pra gente! – dizia Hellen-

- Mais que isso, ele sempre nos deixa fazer nossas escolhas!

- E então o que você decidiu?

- Vou atrás da minha cantora oras! Ela vai ter que me ouvir! Afinal, somos feitas uma para outra, e ela vai voltar pra mim!

- Agora senti firmeza!

- Faço que for preciso pra ter ela denovo!

- Ih Fadinha do senhor Santiago, só não pega pesado!

- Que nada, ela num vai resistir ao meu charme!

Elas riram!

- Agora sim minha amiga tá de volta!